José Eugênio

Neste dia em que o presente foi tão intenso, cada instante foi especial. Aventuras trouxeram momentos inesquecíveis. Um evento inesperado foi motivo para aproveitar ainda mais o dia. Como bem disse Borges , hoje já faz parte do passado que nos torna o que somos. Vivências como esta aglutinam os sentimentos em um único: a felicidade.

A água servida no copo derrama, molha a mão. Seria o copo pequeno para a sede? Ou o ímpeto de enchê-lo maior que o desejo? Não importa, o que vale é saciar a secura do corpo que necessita da água para viver. Derramar é uma falha no ato de servir o líquido vital. Sabemos que essa água limpa e boa não faz parte da vida de milhares de seres humanos, enquanto uns se servem até transbordar, outros não possuem água encanada em seus lares. Combater desigualdades como essa é nosso dever moral, portanto, que façamos a nossa parte. A começar por evitar o desperdício da preciosa água encanada de que dispomos. Da pequena quantia derramada ao exagero indevido de seu uso para limpar calçadas.

Sorvendo uma xícara de café expresso da Tanzânia, enquanto penso sobre os mistérios da vida. O café é bom, assim é a vida. Por que então surge a tristeza? O que nos falta é a certeza de que a sorte nos brinda com milhares de prêmios, como esta xícara de café, por exemplo, que nos dá o prazer de sentir o sabor do fruto que vem de cultivos de uma região tão remota. Vivemos em uma época privilegiada, a humanidade nunca desfrutou de tanto conforto, no entanto, muitos sofrem e outros, mesmo sem motivo, se entristecem.  Precisamos aprender a sentir a alegria de cada instante, quando os dons dos nossos sentidos nos permitem tomar ciência da beleza do mundo. Como será o estado de espírito daqueles que colhem o café na Tanzânia? O trabalho em lavouras de café naquela região é feito por inúmeros pequenos produtores. Serão eles felizes? Penso que, em muitos casos, o consumidor final da bebida vive mais infeliz que estes trabalhadores.  Podemos superar isso ao encontrar os verdade...

Já estamos vivendo momentos difíceis aqui em 2020. Espero que em 100 anos as coisas tenham melhorado. Embora as perspectivas não sejam muito boas. Os 7 bilhões de seres humanos que habitam nosso planeta já precisam de 1,8 planetas-terra para suprir as suas necessidades. Se este panorama não mudar em pouco tempo, os recursos serão exauridos. Alguns pensam que a solução a longo prazo será a colonização de outros planetas. No caso de Marte, por exemplo, isso envolveria um esforço de terrificação do mesmo, ou seja, transformar Marte de um planeta inóspito em alguma coisa perto da Terra. Mas, se buscarmos a solução aqui mesmo em nosso planeta? Se concordarmos em economizar os recursos, replantar florestas, enfim, criar condições para nos manter aqui. Talvez não com tanto conforto como temos hoje, mas vivendo uma vida feliz. Teremos a oportunidade de sobreviver aqui por mais alguns milhares de anos. Não é tão difícil assim pensar que podemos viver com menos recursos que gastamos hoje. Nossos...

O pássaro a cantarolar, bem-te-vi. Gosto bom de café na boca, que me remete aos tempos em que detestava essa bebida. No momento, vejo a minha sala, ampla, com chão branco e fachos do sol que vem da varanda. Uma planta na minha frente reluz estes raios solares, parecendo sentir prazer com esta energia. Minha TV à minha frente, desligada, reflete, como um espelho, aspectos da varanda. Ouço rumores da conversa animada das meninas no quarto. Sensação de que a vida é boa e o sucesso virá sempre acompanhando o nosso esforço. O bem-te-vi a continuar cantando. Olho a varanda, vislumbrando a paisagem conhecida de prédios que formam um belo horizonte, que já rendeu boas fotos de pôr-do-sol. Finalmente, me deparo pensando que o que importa é viver o agora e recheá-lo de uma porção de momentos de alegria, proporcionada pelos nossos sentidos e sedimentada pela nossa consciência.

Uma panapaná revoou por cima do telhado da casa amarela. Borboletas-azuis muito bonitas. Presságio de uma tempestade que viria a atormentá-las, incluindo as futuras borboletas, recolhidas ainda no interior do seu ovo.